Hoje, 22 de abril, os valores definitivos do acordo firmado entre governo e a categoria das servidoras e servidores ambientais federais constam no contracheque de todos. O montante vem corrigido com pagamento de retroativo referente aos meses de janeiro a março, quando já era a vigente a MP 1286/2024.
Lembramos como 2024 foi um ano marcado pela intensa luta da categoria por uma reestruturação de carreira que realmente atuasse nas disparidades gritantes e melhorasse as condições para permanência das pessoas nos órgãos e permitisse reais condições para execução das atividades e competências da Cema e do Pecma.
Em resumo, isso acabou acontecendo. Alguns motivos podem ajudar a explicar. O primeiro, a existência de uma crença alheia à realidade da luta de classes. Muitas e muitos de nós, levados por falsas promessas de supervalorização da carreira, acreditavam, por exemplo, que receberiam o dobro seu salário. É claro que pensando o histórico, a perda do poder de compra acumulada, a falta de investimento para fortalecimento da carreira, o dobro não é absurdo. O mérito aqui não é questionar a legitimidade do desejo, mas o que acontece no embate entre patrão e trabalhadores. É sobre isso e será sobre isso.
Muitos de nós olhávamos acordos feitos com outras categorias e não entediamos (e não entendemos) por quê o tratamento foi desigual. Foi desigual exatamente por estarmos tratando de luta de classes. Elementos como lobby, participação de setores regulados, diferenças de importância entre ministérios para o governo, influência de parlamentares, papel histórico de polícias para a sociedade, dentre outros, podem nos ajudar a entender um pouco da representação dessa disparidade. Não é aceitar isso, é entender os motivos.
O governo também demonstrou um claro e manifesto desconhecimento sobre nossa área, o que se revelou um planejamento prévio de enquadramento de carreiras (inclusa a nossa) nivelado para baixo. Uma estratégia que corroborou com isso foi a fragmentação de pontos da Mesa Nacional de Negociação para mesas específicas (não estamos conta mesa específica da carreira, mas sim sobre o esvaziamento da mesa nacional), inserindo um tipo de disputa entre categorias que acentuou essa fragmentação.
Esse é um ponto bastante sensível, pois, por óbvio, os servidores de um órgão ou política pública sabem mais que ninguém da sua relevância e dos problemas enfrentados para a execução de suas atividades, o que acaba soando como mais prático, fazer a luta somente por área. Entretando isso se mostra como um dos fatores que enfraquece a própria luta específica.
Por analogia, nossa jornada foi marcada por bastante luta, mas a responsabilidade de organização e ação recaiu sobre os ombros de poucos de nós. E isso, colegas, com toda certeza, é fator preponderante para demonstração de força ou de fraqueza. Em miúdos, quanto menos formos, menos força. Ainda que decisão judicial tenha imposto um grave baque ao movimento, ainda que sempre exista quem não se envolve, fura greve, a verdade é que ao se terceirizar a responsabilidade total da luta para poucas figuras, aquilo que é ganho vai reproduzir a capacidade de luta. Pior, a não compreensão de todos esses fatores fortalece ainda mais jargão do meu pirão primeiro.
Infelizmente, isso esteve presente dentro da categoria, sobretudo nos momentos finais do movimento. Contudo, quando olhamos todo contexto, considerando sujeitos, correlação de forças, contradições, esgarçamos e conseguimos ganhar aquilo que foi possível, se configurando como um ganho. O que não se materializa como ganho, foram as consequências pós assinatura do acordo.
Pautamos incessantemente sobre a situação caótica de muitos pontos da gestão ambiental e de como a superexploração é presente em nossa atuação. Mas voltamos a este modo quase de maneira automática, nos desmobilizamos – responsabilidade de todos – pedimos desassociação sem pensar em médio e longo prazo e na natureza de luta contínua das associações por melhorias da categoria. Os outros ciclos de luta também foram assim, brutais, desgastantes e que a lição que fica sempre é de conseguirmos manter nossa classe como uma força que pode sim incomodar de fato, se de fato contar com mais braços e pernas.
O contracheque está sim expressando o resultado de um período de muita luta. Poderia ser melhor. Tentamos fazer melhor. Seguiremos ousando melhorar. Olhando para si, para a colega e o colega ao lado, para o todo, lendo a realidade e percebendo que junto a luta por melhoria salarial, tem uma luta por manutenção da política ambiental do serviço público como um todo. Não há fórmulas mágicas, nem presentes que caem do céu. Só se conquista algo pela luta e isso sugere participação nos espaços coletivos de organização de classe. Quiçá assim, o que será representado nos contracheques nas próximas ações diretas de luta, seja muito mais.
Diretoria Executiva Asibama-DF 2023/2025